De graça é mais gostoso?


Será? Embora eu esteja bem entusiasmada com o lançamento do quarto livro da minha saga Radegund, também ando bem chateada com umas coisas que ando vendo por este mundo literário afora.

Vocês sabem que eu não gosto de treta. Fujo delas, MESMO. Mas chega um momento em que o saco (que eu sequer tenho) enche. Em mais de dez anos nessa estrada literária eu ainda estou aqui falado sobre a valorização do autor nacional. Cara, são DEZ anos tendo que bater na mesma tecla! DEZ anos tendo que explicar pra quem NÃO QUER entender que a obra intelectual É SIM UM PRODUTO e como tal tem seu valor determinado pelo esforço e pelo investimento que o autor faz para criar um livro.

Vejam bem que não falei em PUBLICAR (ainda). Falei em CRIAR! Porque, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, desenvolver um livro com um mínimo de qualidade requer investimento FINANCEIRO. Esqueça essa história de que basta uma ideia na cabeça e uma caneta nas mãos. ES-QUE-ÇA. Isso serve para quem quer escrever um diário. Para quem almeja se profissionalizar e vender seus livros, seja em formato físico ou digital, o investimento é grande e a estrada longa. Duvida? Vou te falar sobre o meu trabalho.

Comecei a esboçar a saga de Radegund por volta de 2005/2006. ESBOÇAR. Por se tratarem de romances históricos, precisei pesquisar muito. Na foto aí embaixo vocês podem ver uma parte do meu acervo de pesquisa. Tem outros livros, que ainda estão guardados em caixas porque aqui no AP ainda não consegui espaço para eles. Tem também cerca de 10 pastas de artigos garimpados em diversas fontes, catalogados por assuntos, que não aparecem aqui. Tem uma pasta de arquivos no PC, com mais de 200 artigos, teses e ensaios. E mais sei lá quantos artigos salvos no Evernote. Desse acervo, virtual e físico, 70% foi material comprado. Os outros 30% foram disponibilizados de forma gratuita pelos autores. Vejam que até agora só falei do investimento FINANCEIRO, não toquei no investimento de tempo, intelectual ou emocional, que também fazem parte do custo de produção da obra. E até aqui só falei do investimento inerente ao processo de CRIAÇÃO.

Somente um dos periódicos que assino custa hoje € 32,95 por ano (6 edições). Outro custa $59,99 por ano (12 edições). Ambos digitais. Do acervo na foto, apenas um volume de “A Guerra de Deus” sai hoje a R$ 90,00 na Amazon (preço promocional). Nem vou falar dos outros.

Uma parte do meu acervo de pesquisa.

“Ain, Drica! Fica botando preço das coisas pra se exibir...”

Não, pessoa. Estou simplesmente desenhando para ver se me entendem. Porque, convenhamos, hoje em dia existe uma dificuldade em abstrair e entender a realidade através de conceitos. Então, a gente esfrega a realidade na cara da sociedade.

Se até aqui não ficou claro o volume de investimento que uma obra bem trabalhada pede, vamos falar do capricho na publicação. Uma boa imagem num banco custa hoje, em média, R$ 120, 00. Se duvidam, deem uma pesquisada na iStock, na Shutterstock e na Fotolia, onde compro as imagens das minhas capas.

“Ah, mas tem banco de imagem mais barato! Ou grátis.”

Tem sim. No mais barato você pode levar uma pernada e acabar com uma imagem que não é licenciada (já passei por isso.) Em bancos gratuitos você raramente vai conseguir qualidade ou uma imagem que realmente comunique aquilo que seu livro transmite.

Além do banco de imagem, temos o registro da obra. Por meios on-line fica em torno de R$ 20,00. Na Biblioteca Nacional fica em R$ 20, 00, mais o custo de impressão, Correios e uma espera que pode chegar a 1 ano para o registro sair. ISBN? R$ 270,00 só para cadastramento. Diagramação de e-book, criação de capa e ficha catalográfica? Ponha aí uns R$ 500 a R$ 1000,00, dependendo do profissional e da complexidade do trabalho. E até aqui eu só falei de E-BOOK, minha gente. Perceberam aonde eu quero chegar?

O livro é uma OBRA INTELECTUAL, é ARTE E é UM PRODUTO. E como tal tem seu CUSTO DE PRODUÇÃO, além de seu VALOR AGREGADO. Independentemente de ser em formato FÍSICO ou E-BOOK.

Achar que um e-book deveria ser distribuído de graça, em PDF ou vendido por um “valor simbólico”, como vejo muita gente pregando por aí, é uma afronta ao trabalho do escritor. É não me venham com aquele chororô de que o autor tem que distribuir sua obra de graça para se tornar conhecido, para o público saber se gosta dele. Sério? Vão se catar! Por acaso você entra na manicure, diz que quer fazer as unhas, mas só vai pagar se gostar? Ou vai ao mercado, leva um quilo de carne e diz pro caixa que se ficar do seu gosto você deixa um like? Sério?

Na loja Kindle temos e-books que custam muito pouco. A faixa de preço de e-books nacionais, mesmo aqueles lançados por selos editoriais mais tradicionais, dificilmente ultrapassam a casa dos R30,00. Se o autor for exclusivo da Amazon, e se os royalties dos e-books forem 100% dele, de cada e-book vendido a R$ 10,00, por exemplo, ele vai ficar com R$ 6,94 (categoria de royalties 70%, descontada a taxa que a Amazon cobra a título de entrega, que fica em R$ 0,06). Caso o autor consiga vender 1 e-book por dia, ele vai apurar no final de 30 dias R$ 208,20. Que serão creditados para ele em aproximadamente 60 dias. Ou seja, aproximadamente 21,82% de um salário mínimo vigente para um mês de trabalho (para vender 1 e-book/dia calculo que precise de umas 5 horas de trabalho/dia) e investimento em divulgação (links patrocinados, marcadores, eventos e afins). Esses são cálculos bem grosseiros, baseados em observação e experiência pessoal. Mas que dão uma noção mínima do quanto CUSTA um “simples” e-book que, segundo os profissionais do Achismo Avançado Aplicado I, deveria ser de graça e ser distribuído em PDF!

Eu poderia listar aqui mais uma série de argumentos, desenhar e provar por A+B que os e-books nacionais, principalmente, são mais baratos do que um chiclete, e ainda assim vai ter gente defendendo o roubo da propriedade intelectual como forma de “divulgação”. Para esses eu só digo: melhorem. O que essas pessoas costumam querer é o doce sabor de levar uma vantagenzinha de merda sobre alguém. É se ocultar atrás da tela de seu PC ou celular e esfregar as mãozinhas porque está fazendo uma coisa escondida. A maioria baixa e nem lê. Mesmo quando o autor oferece um e-book de graça na Amazon, essas pessoas apenas os acumulam em seus dispositivos. Não dão retorno algum sobre a obra que tão gentilmente lhes foi cedida. O que essas pessoas geralmente desejam é continuar levando vantagem nessas coisas pequeninas, ignorando que por trás de cada linha de um livro, existe anos de trabalho e investimento de alguém.

Só sei que, na próxima vez que me pedirem e-book de graça, vou perguntar qual a profissão dessa pessoa. O que ela faz para viver. Quem sabe ela não trabalha de graça pra mim, só pela divulgação.

Drica Bitarello.

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