Nacionais 2018 #13 - Ágata - Emília Lima

Sigo em minha proposta de conhecer autoras e autores nacionais. E o livro escolhido desta vez foi "Ágata", segundo volume da série Família Cirilo, da baiana Emília Lima.
Ágata, a protagonista, foi apresentada ao leitor no primeiro livro como a irmã fútil, invejosa e traiçoeira de Alina. Depois de muitas peripécias, a autora sinaliza, já no final da história, que Ágata teria mudado, deixando o gancho para o próximo romance.

A primeira parte de "Ágata" é toda focada na protagonista. Desde sua saída do Brasil (para onde foi levada à contragosto pela família)  através de um conturbado casamento com um conde português, passando por suas infidelidades, seu envolvimento interesseiro com Pedro Garcia (grande amor de Alina), sua queda moral e, por fim, seu retorno ao Brasil numa situação socialmente desconfortável. É durante esta parte que somos apresentados ao outro lado da personalidade de Ágata, suas razões e motivações.

Na segunda parte, onde começa a redenção da personagem e seu envolvimento com um vizinho da família, Alberto, acompanhamos sua evolução como pessoa, a busca pela felicidade e sua tentativa de passar a limpo os erros do passado.

Eu tinha muitas expectativas com este livro. Primeiro porque Ágata era uma personagem com vocação para ser grande. Fora dos padrões, totalmente amoral, não tinha nada de moça boazinha. Cheia de complexidades, teve sua história contada, é verdade. Mas não foi ouvida. Seus dramas pessoais foram mostrados com uma linearidade que roubou toda e qualquer emoção das cenas. O volume de informações e o ritmo acelerado acabou tirando muito do brilho e da profundidade que a mulher Ágata merecia. E ela merecia brilhar muito, porque mesmo em seu pior, Ágata era f***!

Em segundo lugar, eu esperava, por ser o segundo trabalho da autora, uma evolução na escrita. Um amadurecimento que não veio e que acabou comprometendo demais a leitura.

A opção pela narrativa primeira pessoa, alternando os pontos de vista de Ágata e de Alberto, não me agradou, já que o primeiro livro é todo narrado em terceira pessoa e dá um tom mais rico à trama. Outra falha constante na narrativa é a alteração repentina, no meio de uma cena, da voz narrativa de primeira para terceira pessoa. Isso deixou o texto muito confuso e muitas vezes tive que reler o trecho. Também fiquei muito incomodada com anacronismos constantes, conceitos e situações que jamais teriam lugar numa trama ambientada no final do século XVI. Como um diagnóstico de "depressão" de um personagem da trama, conceito que só foi usado pela primeira vez em 1680. Ou uma prescrição de "vitaminas", cuja descoberta só ocorreu em 1913. Além disso, foram várias situações que funcionariam muito bem num romance contemporâneo, ou até num de época ambientado no final do século XIX, talvez. Mas num jovem Brasil colônia me soaram inverossímeis.

Eu gostaria realmente de ter tido uma experiência melhor, já que Ágata era o tipo de protagonista que tinha absolutamente tudo para transformar o livro numa história inesquecível. Uma mulher vivida, madura, cheia de imperfeições e com um passado sujo que resolve dar a volta por cima e se tornar uma pessoa melhor. Infelizmente, não rolou.

Ágata
Emília Lima
Independente -E-book Amazon
136 páginas
ASIN: B079JXZSHR

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